AS MULHERES LEEM SIMONE DE BEAUVOIR:AS CONTRIBUIÇÕES DA FILÓSOFA FRANCESA AO PENSAMENTO E A LIBERDADE DA MULHER CONTEMPORÂNEA.
AS MULHERES LEEM SIMONE DE BEAUVOIR: AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA FILÓSOFA FRANCESA AO PENSAMENTO E A LIBERDADE DA MULHER CONTEMPORÂNEA.
(Foto: Albert Harlingue/Divulgação)
1 INTRODUÇÃO
Muito se tem discutido recentemente, sobre a importância da atuação da mulher na sociedade, seja no âmbito pessoal, social, ofício ou político. Mas isso foi conquistado de modo progressivo? A atuação da mulher como sujeito ativo de sua vida sempre esteve em pauta nas discussões? De que modo pensadoras e filósofas feministas conquistaram ao longo dos anos influência sobre a maneira de pensar e agir das mulheres, atuando de maneira prática na defesa de sua liberdade e dos seus direitos? A partir de que argumentos Simone de Beauvoir apresentou aos leitores os problemas que as mulheres estavam enfrentando em suas vidas e que segue em pauta na atualidade? quais ideias seguem presentes nos pensamentos e reflexões femininas e quais consequências positivas foram frutos de sua obra no cotidiano das mulheres brasileiras? Vejamos a seguir...
Desse modo, ao pesquisar sobre a história da mulher é possível conhecer, além da pensadora francesa, a matemática da Antiguidade Hipátia (360 d.C – 415 d.C), a cientista Marie Curie (1867 – 1934), a política, bióloga e ativista brasileira Bertha Lutz (1894 – 1976), no campo do pensamento e da Filosofia, além das já citadas, a filósofa Mary Wollstonecraft (1759 – 1797), a pensadora, ativista e filósofa Angela Davis (1944 - ), entre tantas outras que poderiam ser citadas. Logo, é possível dizer que existem muitas obras e escritos de pensadoras, professoras e escritoras que são de suma importância para estudar os trabalhos desenvolvidos por mulheres em diferentes áreas de atuação. Sendo assim, para analisar e desenvolver as reflexões de Simone, é necessário introduzir uma breve biografia de sua vida e a problemática da obra e seus argumentos escritos em Fatos e Mitos e A experiência vivida.
1.1 Breve biografia da filósofa
Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir nasceu em Paris (França) no dia 9 de janeiro de 1908 e faleceu já com 78 anos em 14 de abril de 1986 em Paris. Ela é considerada filósofa, escritora, ativista do movimento feminista e professora. Sua corrente filosófica é a existencialista, a qual teve como expoente intelectual também o pensador Jean Paul-Sartre (1905 – 1980) com quem Simone possuiu grande afeto e relacionamento e também dividiu muitos de seus pensamentos e reflexões filosóficas. Simone participou da revista Les Temps Modernes junto a Sartre, Merleau-Ponty (1908 – 1961) e Raymond Aron (1905 – 1983). Sua obra de maior repercussão é O Segundo Sexo, publicada em 1949, a obra além de inovar a maneira de abordar a visão do que é ser mulher, é retratada sobre a perspectiva de uma mulher que busca revolucionar a situação feminina. Sua frase mais célebre está escrita no segundo volume (A experiência vivida) nessa obra: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.”
1.2 As reflexões de Simone de Beauvoir
Segundo as primeiras reflexões abordadas por Simone, oque é ser mulher? É apenas um fator biológico ou é algo construído? As mulheres sempre foram ativas sobre suas vidas ou eram vistas como o outro? Elas apenas aceitaram o seu destino sem reivindicar a sua própria independência e liberdade de escolha? É necessário analisar o contexto que as mulheres vivenciam ao longo dos anos para formular respostas para tais perguntas. Logo no início da obra, Simone já afirma ao leitor que o homem foi construindo seu papel como sujeito ativo no mundo, enquanto a mulher por questões muito mais complexas não se sentiam e agiam como sujeitos de sua história. Então, “dizer que a mulher era o Outro equivale a dizer que não existia entre os sexos uma relação de reciprocidade [...]” (BEAUVOIR, 1949, p. 105).
Mas quais as causas da falta do reciproco entre ambos? Primeiramente, ocorre a falta de condições igualitárias, e muitas vezes as próprias mulheres aceitavam de maneira voluntária essa atribuição, de ser vista como o Outro, possivelmente por consequência da situação ao qual estava inserida. Deste modo, como conquistar condições e oportunidades iguais entre homens e mulheres? Problemáticas como essa continuam vigentes.
Ser mulher, segundo Simone, é algo que deve ser construído, reivindicado junto ao seu papel como sujeito em busca da própria emancipação e de sua liberdade, logo, as mulheres não devem ser vistas apenas como reprodutoras. É necessário condições para firmar a própria autonomia, já que os homens possuem plenas condições para tal feito, enquanto as mulheres muitas vezes tem sua individualidade combatida pelos interesses de sua espécie. Mas como trilhar o seu caminho para a possuir a própria autonomia? Primeiramente tornando dona de seu corpo, de suas escolhas e gostos, integrando-se racionalmente em sua própria vida e principalmente desempenhando seu papel econômico e social.
Nessa perspectiva, Simone reforça sua posição ao citar que “Na verdade, a situação é sem equilíbrio e é por essa razão que lhe é difícil adaptar-se a ela. Abrem-se as fábricas, os escritórios, as faculdades às mulheres, mas continua-se a considerar que o casamento é para elas uma carreira das mais honrosas e que as dispensa de qualquer outra participação na vida coletiva.” (BEAUVOIR, 1949, p. 194). Tendo em vista que a obra foi escrita em 1949, atualmente, algumas pessoas ainda defendem a posição criticada pela filósofa francesa. É possível que as mulheres usufruam de condições justas em suas áreas de trabalho?
1.3 Educação para as mulheres e liberdade
Simone de Beauvoir também defende a necessidade de uma educação e introdução consistente da mulher no contexto social, cultural e político. Por muito tempo as esposas apenas deveriam aceitar a opinião dada por seus maridos, era negado qualquer valor à opinião da mulher, atualmente sobre o reflexo de lutas e posicionamentos como os da filósofa, as mulheres anseiam e sabem o valor de suas opiniões e crenças, elas devem ser ouvidas e discutidas. Por muitos anos os homens utilizaram da educação e do intelecto para oprimir as mulheres.
É defendido também a liberdade dentro das relações conjugais, sendo condenado o sentimento de pose sobre a companheira, o amor precisa envolver amizade e liberdade mútuas. Quantas mulheres morrem devido ao feminicídio em países como o Brasil? As notícias e os dados assustam quem os acompanha diariamente. O sentimento de posse e ordem é presente em muitas relações, chegando a extremos como a violência, tanto psicológica como física, e até mesmo a morte. É necessário quebrar os grilhões dessas mulheres. É necessário também acabar com os estereótipos femininos.
Portanto, as mulheres devem ser livres também no âmbito sexual, livres perante sua aparência e sua personalidade, quais bandeiras pretende levantar e causas aderir. Ao longo dos anos, foram construindo modelos de dona de casa, de mulher perfeita, segundo a perspectiva apresentada pela filósofa, a máxima da mulher é estar bem consigo mesma, exercer seu livre arbítrio e conquistar sua independência.
No fator profissional é dito “Na medida em que a mulher quer ser mulher, sua condição independente cria nela um complexo de inferioridade; inversamente, sua feminilidade leva-la a duvidar de suas possibilidades profissionais.” (BEAUVOIR, 2019, p.524). No Brasil, é discutido a diferenciação salarial entre homens e mulheres, já que é abordado frequentemente que os homens possuem um salário maior em relação ao salário das mulheres, ambos possuindo o mesmo cargo. As mulheres precisam traçar um plano de carreira, determinar seus objetivos, agir, criar suas oportunidades, sair da imanência para transcender ao mercado de trabalho, e ainda assim lutar por salários mais justos.
CONCLUSÃO:
Com o surgimento da primeira onda feminista, a luta das mulheres por seus direitos, como por exemplo, pelo direito ao voto ocorrida desde o século XIX ao XX, havendo também em alta o movimento feminista negro que além dessa causa, combatia o racismo. Seguindo, na década de 50 à década de 90 o feminismo abordou a condição da mulher e a opressão, buscando o empoderamento feminino. E, a partir da década de 90 a terceira onda feminista tem por foco reforçar a liberdade de expressão. Tendo em vista o século XXI é notório como o movimento feminista trouxe conquistas para as mulheres. Atualmente, as mulheres conquistaram espaços em meios acadêmicos, na Ciência, na Política, nas grandes empresas e negócios, nos comércios autônomos e nos esportes.
Elas possuem e lutam pelo direito à liberdade de expressão e livre escolha, as mulheres podem sonhar em ser professoras, filósofas, médicas, empresárias, cientistas, autoridades políticas e diversos costumes patriarcais estão sendo rejeitados. A mulher pode ser quem ela quiser. Construir-se como sujeito diligente e crítico da realidade ao qual está inserida.
Contudo, alguns desafios ainda permanecem no cotidiano, como a igualdade de salário perante os mesmos cargos, maior representatividade política já que o número de mulheres na política ainda continua pequeno referente aos homens. Também, a melhor distribuição de tarefas nos lares já que muitas mulheres enfrentam problemas com a conciliação entre tarefas domésticas, cuidados com a família, cuidados pessoais e o seu trabalho, sendo assim, ao distribuir tarefas de maneiras igualitárias para os cônjuges, facilitaria o convívio e a atuação de ambos. Outro problema enfrentado é a discriminação social, o machismo, o racismo e o feminicídio já citados, que ao longo dos anos esta matando e ferindo muitas mulheres. Sendo assim, é evidente a necessidade de leis mais estáveis que ampare e proteja as mulheres que se encontram em estado violência doméstica, psicológica e em risco de vida.
Em virtude dos fatos mencionados, nota-se como a obra O Segundo Sexo tem um papel importante na vida das mulheres e no movimento feminista. Os argumentos apresentados por Simone de Beauvoir indicam muitos fatos vivenciados e apresentam a importância da emancipação, da reivindicação pelos direitos, da busca pela liberdade pessoal e de expressão, da autonomia, da representatividade e de transcender enquanto mulher em busca de superar sua própria condição.
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
Muito bom, consegue transcrever perfeitamente o que Beauvoir traz na obra O segundo sexo. Você tem uma visão privilegiada da forma que a mulher está inserida na sociedade. Todas nós necessitamos
ResponderExcluiraprender um modo de viver onde se consiga distinguir o que é ser mulher neste mundo ainda machista, patriarcal e racista, onde a classe , raça e o gênero ainda são fatores de discriminação.Que este século possa ser de vitórias para todas nós.
Parabéns.