O que Peter Singer tem a dizer em prol da causa animal e do vegetarianismo?


LIBERTAÇÃO ANIMAL: PRINCIPAIS IDEIAS DE PETER SINGER 
    Joel Travis Sage / Wikimedia Commons

INTRODUÇÃO

    O texto tem por objetivo apresentar a obra Libertação Animal (1975) de Peter Singer, e relacionar os argumentos apresentados pelo filósofo em defesa da igualdade dos animais, do não uso de violência e crueldade contra os mesmos. Entretanto, mais do que analisar a atitude dos seres humanos no quesito consciência sobre suas práticas e consequências na vida de outros seres, é preciso examinar do ponto de vista político, social e econômico, é preciso analisar de que modo as práticas humanas estão prejudicando os animais?

1.1 Biografia do filósofo

    Peter Albert David Singer (1946- ) é filósofo, professor e humanista australiano. Considerado defensor dos direitos dos animais, ele promove debates em prol da causa animal, também sobre mudanças climáticas, aborto e diversos temas discutidos na ética. De fato, Singer esta presente nos debates contemporâneos dos movimentos sociais em defesa dos direitos dos animais como, por exemplo, no veganismo e também em causas que envolvem práticas sustentáveis e ambientais. A seguir, será tratado a problemática apresentada na obra Libertação Animal.

1.2 Personalidades influentes citadas na obra

    Mary Wollstonecraft (1759 - 1797), Jeremy Bentham  (1748 - 1832), Sojourner Truth (1797 - 1883), Thomas Jefferson (1743 - 1826), René Descartes (1596 - 1650),  Ludwig Wittgenstein(1889 - 1951), Robert Nozick (1938 - 2002), São Tomás de Aquino (1225 - 1274), Pitágoras (c. 570 – c. 495 a.C.), Platão (428/427 – 348/347 a.C.), Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), Santo Agostinho (354 - 430), Sêneca (04 a.C. - 65), Plutarco (46 - 126), São Francisco de Assis (1181/2 - 1226), Leonardo Da Vinci (1452 - 1519), Giordano Bruno (1548 - 1600), Michel de Montaigne (1533 - 1592), entre outros.

1.3 A opressão sofrida pelos animais

    Peter Singer no início de sua obra indica ao leitor que antes de tirar qualquer conclusão sobre o tema que ele está tratando, suspenda seu juízo e busque avaliar de uma maneira séria. Ele pretende tratar da tirania e opressão que os animais vem sofrendo ao longo dos anos nas mãos da raça humana. O foco é evitar o sofrimento e os maus tratos, a exploração e entender que os animais são seres sencientes e independentes, perdendo a visão de que foram criados como meios para as finalidades humanas. Desse modo, é preciso analisar do ponto de vista moral, prático, político e social, por que os seres humanos causam tanto sofrimento infringido por meio de crueldade e violência aos animais? Para responder tal questão é necessário libertar o modo de pensar de preconceitos e analisar os argumentos do autor.

1.4 Atitude humana e especismo

     Nos primeiros dois capítulos, é dito que é preciso dar voz as causas de igualdade daqueles que não conseguem se defender das crueldade que sofrem, sendo eles, os animais. É necessário - e não é uma tarefa fácil - analisar os próprios hábitos, pensamentos e linguagem referente a esses seres. Preocupado com os direitos dos animais o autor diz que "O princípio básico da igualdade não requer um tratamento igual ou idêntico; requer consideração igual. A consideração igual para com os diferentes seres pode conduzir a tratamento diferente e a direitos diferentes." (SINGER, 2004, p. 16). Portanto, a igualdade consiste em considerar os direitos de diferentes seres respeitando sua diversidade, interesses e necessidades. Ele ao citar exemplos, condena o racismo, o especismo e o sexismo e diz que é injustificável a discriminação. E, numa atitude de empatia e preocupação com a maneira que as próprias atitudes influenciam no bem-estar do próximo o filósofo cita que " Mas o elemento básico - tomar em consideração os interesses do ser, sejam estes quais forem - deve, segundo o princípio da igualdade, ser ampliado a todos os seres, negros ou brancos, masculinos ou femininos, humanos ou não humanos." (SINGER, 2004, p.18). Desse modo, é necessário levar em conta se as medidas tomadas afetam os outros seres gerando sofrimento.
    Ao questionar o argumento que os animais não sentem dor por não conseguir expressar de maneira linguística, o filósofo diz que os bebês podem sentir dor e não conseguir expressar verbalmente. Portanto "Assim, em jeito de conclusão: não existem razões válidas, científicas ou filosóficas, para negar que os animais sentem dor. Se não duvidamos de que os outros humanos sentem dor, não devemos duvidar de que os outros animais também a sentem." (SINGER, 2004, p. 25). O autor também ressalta que muitos hábitos da população teriam que ser mudados, se por acaso, fosse decidido diminuir ou até mesmo acabar com o sofrimento dos animais, como por exemplo, "[...] seríamos forçados a proceder a mudanças radicais no nosso tratamento dos animais que implicariam os nossos hábitos alimentares, os métodos agrícolas que utilizamos, as práticas experimentais em muitos campos da ciência, a nossa atitude para com a vida selvagem e a caça, a utilização de armadilhas e o uso de peles, e as áreas de diversão como circos, rodeios e jardins zoológicos. Como resultado, muito sofrimento seria evitado." (SINGER, 2004, p. 26). Será que as pessoas estariam dispostas a deixar seus interesses de lado para minimizar ou até mesmo não causar mais dor e sofrimento aos animais? Isso seria a consideração de igualdade descrita por Peter? No momento seguinte ele refuta o argumento que muitas pessoas utilizam para defender ser contra o aborto e a eutanásia ao dizer que não se devem tirar vidas inocentes, mas por quais motivos esse argumento não defende também a vida dos animais? Apenas vidas humanas importam?
    Em seguida é discutido os experimentos militares feitos em animais, como macacos, ratos e beagles "Em todo o caso, não é correto limitarmos a nossa preocupação aos cães. As pessoas tendem a preocupar-se com os cães porque, geralmente, têm mais experiência com cães enquanto animais de estimação; mas há outros animais tão capazes de sentir o sofrimento como os cães. Poucas pessoas sentem compaixão pelos ratos. No entanto, os ratos são animais inteligentes, não podendo haver dúvida de que os ratos são capazes de sofrer durante as incontáveis experiências dolorosas que são realizadas com eles. Se as forças armadas deixassem de fazer experiências com cães e resolvessem fazê-las com ratos, não deveríamos ficar menos preocupados." (SINGER, 2004, p. 34). As experiências feitas com os animais muitas vezes levavam a consequências extremas como ao desespero, ansiedade, perturbações psicológicas e morte. 
    Ao analisar dados referente a animais utilizados como cobaias como os porquinhos da índia, os ratos, camundongos, hamsters e os coelhos no ano de 1985,o autor diz que é preciso que a população esteja consciente de como são feitos os experimentos nos animais já que isso advém de seus impostos e que havia muita publicidade referente a venda de animais para experimentos e o número de animais vendidos é realmente expressivo e assustador. Desse modo, a maioria dos animais citados são utilizados para experimentos com cosméticos e não apenas para investigação médica. Isso não torna menos cruel o tratamento feito aos animais, feitos muitas vezes, como relata o livro, com choques elétricos, "No entanto, a oposição ao que acontece neste momento não significa necessariamente a insistência na suspensão imediata de todas as experiências que utilizem animais. Só precisamos de dizer que as experiências que não servem um objetivo direto e urgente deverão ser suspensas imediatamente e, nas restantes áreas de investigação, se deverá, sempre que possível, procurar substituir as experiências que exijam a presença de animais por métodos alternativos que não o façam." (SINGER, 2004, p. 40).  Logo, esses fatos são consequências do especismo.
    No parágrafo seguinte Singer analisa os testes em animais, tomando uma posição crítica social e econômica referente ao tema ele diz que "Deverão milhares de animais sofrer para que possa ser introduzido no mercado um novo batom ou uma nova cera? Não teremos já nós um excesso da maioria destes produtos? Quem beneficia com a sua introdução, senão as empresas que esperam lucrar com eles?" (SINGER, 2004, p. 48).  Ele aborda minuciosamente exemplos e relatórios de como é feito esse experimentos e testes em animais, seja por envenenamento ou intoxicação feitas em coelhos. Além disso,  ele diz que por consequência dos movimentos em defesa dos animais, muitas empresas estão revendo os testes e buscando alternativas "A tragédia é considerar que se os toxicólogos, as empresas e as agencias reguladoras se tivessem preocupado mais com os animais que utilizavam, teria-se poupado imensa dor a milhões de seres. Não foi senão quando o movimento de Libertação Animal começou a sensibilizar as pessoas para a questão que os responsáveis pelo comércio que gira em tomo dos testes pensaram realmente no sofrimento dos animais." (SINGER, 2004, p. 53). Portanto, foi depois de muitos anos e lutas em prol da conscientização que as empresas começaram a repensar seus experimentos e testes. Novamente, o filósofo afirma que "Toleramos uma crueldade para com membros de outras espécies que nos indignaria se fosse perpetrada em membros da nossa própria espécie. O especismo permite que os investigadores considerem os animais nos quais realizam as experiências como peças de equipamento, instrumentos laboratoriais e não criaturas vivas, que sofrem." (SINGER, 2004, p. 58) e dessa forma, apresenta a consequência do especismo na consciência das pessoas e na vida dos animais, gerando sofrimento.
    Em outro momento, é tratado a situação que os estudantes e profissionais da área da medicina veterinária passam ao entrar em seus cursos, e ele aponta que muitos precisam realizar experiências com os animais e do mesmo modo que os animais são levados a reagir de um certo modo para garantir seu alimento nos experimentos feitos, as pessoas são levadas a deixar suas questões éticas para garantir sua carreira. Muitos cientistas apresentados nos relatos da obra não encontram motivos para que crenças éticas e morais envolvendo os animais. E, Singer sugere que se criem um modo de controle dos experimentos feitos por um comitê ético com pessoas que defendem o bem-estar dos animais, onde se veja o nível de sofrimento que os experimentos causará aos animais e os seus objetivos.

1.5 A refeição derivada dos animais
     
    No terceiro capítulo da obra, Peter Singer escreve sobre a alimentação derivada dos animais. No início do capítulo ele diz que o processo envolvendo desde o tratamento dos animais (aves, gado e porcos) ao abate quase não é visto pelo público já que muitos só percebem o processo quando pronto e expostos nos supermercados "Geralmente, ignoramos o abuso das criaturas vivas que subjaz a comida que consumimos. A compra de comida numa loja ou restaurante é o culminar de um longo processo, do qual tudo, com excepção do produto final, é delicadamente afastado da nossa vista. Compramos a nossa carne em embalagens de plástico limpas. Quase não sangra. Não há razão para associar esta embalagem ao animal vivo, que respira, caminha e sofre. As próprias designações que lhe atribuímos escondem este fato: comemos bifes, por exemplo, e não bois." (SINGER, 2004, p. 76).  Singer também explica ao leitor o modo triste e não digno que muitas aves, bois e porcos vivem até o dia de seu abate, e também as tensões que os mesmos enfretam em ambientes superlotados "A elevada inteligência dos porcos deve ser tida em conta quando tentamos perceber se as condições em que estes são criados são satisfatórias. Embora qualquer ser senciente, inteligente ou não, deva ser objeto de igual consideração, os animais que possuem capacidades diversas têm requisitos diversos. O conforto físico é uma necessidade comum a todos eles. Vimos que este requisito elementar é negado às galinhas; e, como veremos, é negado também aos porcos." (SINGER, 2004, p. 91). Ele também discorre sobre a comercialização de pele de animais. Desse modo, ele apresenta a necessidade de conforto aos animais e também de entender os interesses de cada espécie e seus padrões de comportamento, sem negligenciar o tratamento aos animais. 
    No quarto capítulo da obra ao abordar os elementos do vegetarianismo, ele aconselha o leitor que "Devemos, por exemplo, escrever aos nossos representantes políticos acerca das questões abordadas neste livro; devemos alertar os nossos amigos para estes problemas; devemos educar os nossos filhos de modo a mostrarem preocupação pelo bem-estar de todos os seres sencientes; e devemos manifestarmo-nos publicamente em nome dos animais não humanos sempre que tivermos uma boa oportunidade para o fazer." (SINGER, 2004, p. 115). Portanto, é necessário educar as crianças e os jovens para que eles se mantenham preocupados com o bem-estar dos animais, é preciso  conscientizar a família e os amigos sobre os processos aqui já mencionados e é preciso ser responsável pela própria conduta em relação aos animais. Desse modo, pode-se pensar na adesão do vegetarianismo. 
    Em outro momento, é citado nomes de atletas famosos que aderiram a dieta vegetariana em busca de melhores condições físicas e saúde, e também a variedade de alimentos que podem ser produzidos sem causar sofrimento aos animais. Outro fator importante apresentado é a implementação da vitamina B12.
    São analisadas também as teorias de filósofos como Pitágoras, Platão e Aristóteles. O autor fala sobre o homem como animal político definido pelo filósofo Aristóteles e também a seus argumentos em torno da escravidão para se chegar a crença de que foi a filosofia de Aristóteles que influenciou o ocidente posteriormente e não o vegetarianismo de Pitágoras.

CONCLUSÃO

    Por fim, o objetivo da leitura e escrita referente ao texto de Peter Singer é relacionar o conceito de especismo com as práticas humanas em relação aos animais. O autor apresenta seus argumentos para defender que a população considere os interesses dos animais, é preciso terminar com o preconceito que as pessoas possuem em relação aos animais, sendo ele, o especismo. Os animais são sencientes e conscientes, é preciso refletir sobre quais as condições que os animais estão vivendo nas indústrias em conta de lucros. É preciso considerar o vegetarianismo e o desenvolvimento sustentável, e estar atento as consequências das atuais atitudes humanas, como por exemplo, o aquecimento global. Seria favorável regulamentações para o tratamento devido dos animais nas indústrias, além disso, é necessário ser empático com a situação dos animais. Na adesão do vegetarianismo, trata-se também de repensar em hábitos que contemplem da melhor forma a própria saúde do leitor já que é indicado buscar uma alimentação saudável, sendo a mesma proporcionada pela dieta vegetariana. Desse modo, é aconselhado pensar e refletir sobre como as próprias práticas estão afetando o meio ambiente e os animais.

REFERÊNCIAS

SINGER, Peter. Libertação Animal. 2 ed. Lugano, 2004.


 




Comentários

  1. Infelizmente para o animal homem, só o que interessa é lucro, poder financeiro.Seria preciso desde pequenos que nos fosse ensinado sobre o sofrimento de todos os animais seja para pesquisa ou alimentação.Por anos as crianças cantavam atirei o pau no gato, depois mudaram a letra para"não atire o pau no gato porque isso não se faz, o gatinho é nosso amigo não devemos maltratar os aminais"Se faz necessário que se inicie um processo de conscientização desde a pré escola, buscando trabalhar sempre esse assunto de proteção aos aminais, Assim com certeza teremos adultos mais conscientes e também sensíveis a essas práticas tão dolorosas.

    Parabéns, sempre nos trazendo assuntos importantíssimos para que possamos discutir e conhecer cada um .

    Simone Röhrig

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  2. A conscientização cobrada em relação aos seres humanos sobre os animais é um assunto bastante complexo e de difícil entendimento, visto que abrange diversos setores da sociedade dita "civilizada", os abusos cometidos contra os animais ocorrem também em algumas religiões afros, por exemplo, através de sacrifícios que são tão terríveis quanto as experiências ou abates indiscriminados cometidos para satisfazerem o consumismo. Atualmente dentro do cenário político mundial as críticas em relação as hábitos cristãos são muito bem aceitas, no entanto se criticar algum costume de alguma outra doutrina religiosa fatalmente você será taxado de intolerante por estar criticando "as minorias". Diversas tribos que vivem isoladas do mundo civilizado também se utilizam da caça e da pesca para sobreviverem, lugares onde nem sequer existe o dinheiro, seria justo que os seres ditos civilizados interferissem no modo de vida dos integrantes dessas comunidades de seres humanos visivelmente mais puros de coração em comparação a nós para tentar mudar seus hábitos?

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